(...)


Escrevo poemas porque não posso correr maratonas e porque a coluna não me deixa praticar btt. Escrevo poemas porque estão à mão. Escrevo poemas porque o posso fazer sentado e em silêncio. E também em pé e com muito ruído à minha volta.
Escrevo poemas porque não sou bom a desenhar nem a pintar. Dou uns toques na fotografia, mas qualquer pessoa o faz com uma máquina digital. Escrevo poemas porque um dia quis impressionar uma rapariga e ela não ficou impressionada. Por isso: continuei. Escrevo poemas porque me é mais fácil do que resolver equações do terceiro grau. Escrevo poemas porque às vezes não tenho mais nada para fazer.
Escrevo poemas pela fama e proveito. Faço-o pelo dinheiro.
Escrevo poemas porque um dia me disseram que a poesia está em todo o lado e eu acreditei.
Escrevo poemas porque sim. Porque não e porque me apetece e porque não me apetece. Porque tenho de fazer alguma coisa na vida para além de respirar e trabalhar e viver.
Escrevo poemas porque fica bem no currículo.
Escrevo poemas porque os meus amigos não me levam a sério e porque os meus amigos não os levam a sério. E ainda bem. Gosto muito disso nos meus amigos.
Escrevo poemas porque é uma forma de ocupar o tempo e o espaço e tudo aquilo que fica pelo meio e no meio e no entretanto das horas vagas – lentas – obsoletas.
Escrevo poemas porque e por que não?
Escrevo poemas porque os dias de sol são por vezes demasiado solares e sabe bem um quarto fechado e o miar do gato. Escrevo poemas porque dá trabalho estar sempre no duche.
Escrevo poemas porque tu, leitor, precisas de alguma coisa para ler. De alguma coisa para criticar, dizer mal, menosprezar, vilipendiar, enlamear, manchar, tingir, colorir, cromatizar. 

6 comentários:

Anónimo disse...

E ao que ouvi dizer andas pela internet, num misto de esperança e pânico, a ver se te plagiam.

manuel a. domingos disse...

Caro anónimo:

muito obrigado pelo seu mui precioso comentário.

E ouviu o anónimo muito bem. Foi isso aquilo que eu disse ao João César e à Catarina Costa, mas também o pode ter ouvido por outra pessoa, pois já o disse várias vezes. Excepto a parte da "esperança e pânico".

Volte sempre.

Com os melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

Quem e quem? Ouvi-o mesmo a ti, como outros terão ouvido, e pasmei com tanta falta de humildade. O Domingos não tem mesmo noção da mediocridade que produz?
Uma coisa é poder pensar isso para si próprio e fazê-lo no recato da sua casa, sendo isso já triste pelo que diz da assoberbada ideia que faz de si, outra mais estranha ainda é fazer disso gabarolice pública.

manuel a. domingos disse...

Caro anónimo:

então peço desculpa. Se o ouviu a mim de certeza que não terá sentido em mim gabarolice. Mas tem o direito de pensar o que quiser.

E fico contente por ter estado presente na "tertúlia".

Volte sempre.

Com os melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

Então se o Domingos paternalistamente me dá esse direito eu penso que em si é tudo gabarolice e ares porque depois tudo o que faz e que supostamente sustenta essa gabarolice e esses ares é tão, mas tão mauzinho. Maternalmente falando.

manuel a. domingos disse...

Cara anónima (suponho que seja uma anónima, tendo em conta o "Maternalmente falando"; mas posso estar enganado):

muito obrigado pelo seu mui precioso comentário.

O Domingos estará sempre aqui para lhe dar a palavra e ler os seus desabafos.

Volte sempre.

Com os melhores cumprimentos.