Os meus lábios
O dia está a terminar
Termina com o jantar
lavar os dentes
um beijo
e deixar tudo arrumado
foi um dia
entre muitos outros preciosos
dias
que nunca se repetem
O que me aconteceu
Passou e andou
entre a manhã e a noite
como o dia anterior
Oh meu dia
meu mais que tudo
o que fiz
o que fiz
Talvez deva
sair pela manhã
regressar à tarde
repetir alguns gestos
pôr as coisas em dia
Oh meu dia
o mais belo diamante do mundo
torre de marfim
baleia azul
lágrima nos meus olhos
Oh os meus obscuros pensamentos
quando estou em pé com as mãos
nos bolsos
e vejo através de colunas
cinzentas de chuva
o plátano ficar dourado
Os meus lábios
que falaram
a verdade mentiram
mecanicamente afirmaram
negaram mendigaram
gritaram sussurraram
choraram e riram
Os meus lábios
formando entre
eles inúmeras
palavras ditas
Tadeusz Różewicz, «My Lips», Selected
Poems, traduzido do Polaco por Adam Czerniawski, London: Seven Books, 1994,
pp. 39 e 41.
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