Fiodor Dostoievski


Mas esta maneira simplificada de falar já não representa nada. Aqui, no fundo, todos estamos desconfiados de que o vizinho é tonto, sem nos darmos ao trabalho de pensar ou de nos perguntarmos a nós próprios: "Não serei eu antes quem é tonto?". Trata-se, pois, de um estado de satisfação geral e, no entanto, para que se veja o que são as coisas, não há ninguém contente, antes pelo contrário: toda a gente anda de mau humor. Mas isso de reflectir uma pessoa nos tempos que vão correndo é coisa pouco menos que impossível; custa muito. Podem comparar-se também ideias feitas. Vendem-se em toda a parte e até as dão de graça: acontece, porém, que as de graça ainda saem mais caras, e as pessoas já começam a desconfiar. No fim de contas, nenhuma vantagem e a mesma desordem de sempre.


em Diário de um escritor, tradução de João Gaspar Simões, Lisboa: Arcádia, 1967, p. 175.

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