Mas esta
maneira simplificada de falar já não representa nada. Aqui, no fundo, todos
estamos desconfiados de que o vizinho é tonto, sem nos darmos ao trabalho de
pensar ou de nos perguntarmos a nós próprios: "Não serei eu antes quem é
tonto?". Trata-se, pois, de um estado de satisfação geral e, no entanto,
para que se veja o que são as coisas, não há ninguém contente, antes pelo
contrário: toda a gente anda de mau humor. Mas isso de reflectir uma pessoa nos
tempos que vão correndo é coisa pouco menos que impossível; custa muito. Podem
comparar-se também ideias feitas. Vendem-se em toda a parte e até as dão de
graça: acontece, porém, que as de graça ainda saem mais caras, e as pessoas já
começam a desconfiar. No fim de contas, nenhuma vantagem e a mesma desordem de
sempre.
em Diário de um escritor,
tradução de João Gaspar Simões, Lisboa: Arcádia, 1967, p. 175.
Sem comentários:
Enviar um comentário