Um poema de Edmundo de Bettencourt


A máquina prisioneira


A máquina acabava o dia a mastigar
e aos poucos os dentes lhe caíam
perdendo-se na espuma do ar negro,
ondulante, da fábrica.

Um desejo insubmisso
de cercar os átomos gigantes
vinha encher um braço
donde surgia um corpo
lacerado sangrento!
e donde surgia um braço
cheio de sangue novo
que libertava a máquina!

A sorrir desdentada
a máquina adormecia...


em Poema Surdos, Lisboa: Assírio & Alvim, 1981, pp. 26-27.

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