Judith
Teixeira transgride. Revela em seus versos o corpo: uma imagem feminina
pactuada com a plenitude da beleza da vida, com os brancos e os vermelhos,
frios e quentes dos tecidos da natureza que essa filha de Viseu soube tão bem
iluminar. E, com esse corpo, revela uma alma presente, que faz dele e, descobre
nele, seus mais profundos desejos. Através dele, junto ao outro/outra, torna-se
transgressora, plena e contínua, descontínua, e finalmente contínua, num
bordado de versos que alcança nossos dias e faz do sexo algo para além das
visões tradicionais de prolongamento da espécie: torna-o um atributo a favor do
equilíbrio humano e da excelência do prazer. Na escrita que produziu, a poetisa
decadentista inovou: provocou e exaltou paixões que tanto permitiram aos seus
textos a experiência da fogueira, como a da ultrapassagem de décadas, para além
de sua vida.
Filha desse
mundo onde a descoberta de si, onde encontrar a sua voz, seu espaço e a sua
condição de ser humano, de ser humano mulher (deve ser dito), exige todo o
impulso da força transgressora, a poetisa ousa e cria. Sua obra é condenada, queimada.
E, ainda assim, hoje, rompe silêncios. É transgressora.
de «Desejo e Transgressão no Corpo Poético de Judith Teixeira» em Feminino plural: literatura, língua e
linguagem nos contextos italiano e lusófono, Debora Ricci, Annabela Rita,
Ana Luísa Vilela, Isa Severino, Fabio Mario da Silva (org.), Lisboa: Centro de
Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, Novembro de 2016, p.71.
1 comentário:
Em épocas de quarentena os versos de Judith Teixeira são, entre outros textos, uma ótima leitura.
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