Labarinto*
No cego labarinto de um cuidado,
Onde tudo é pesado e descontente,
Perseguido de amor injustamente,
De mil monstros crueis ando cercado.
D’alma, de vos e de mi mesmo ausente
Até das esperanças ja deixado,
Sigo um desejo mal afortunado,
Porque tudo me canse e atromente.
Vejo amar-se de novo o mal presente,
Vejo-me a mi de todo desarmado,
Tão longe do remedio desejado
E do que algum hora fui diferente.
Só c’os depojos do meu bem passado
Vejo amor tão soberbo e tão contente
Como quiz o destino que o consente,
Como o tempo cruel tinha ordenado.
em História e Antologia da Literatura Portuguesa – Século XVI, fascículo
nº 19, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 79.
*Nota: este poema pode ser lido de forma salteado, em todas as
combinações possíveis que mantenham a sequência de rima ABBA.
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