Um poema de D. Luís (filho de D. Manuel I)


Soneto Moral

Horas breves do meu contentamento
Nunca me pareceu, quando vos tinha,
Que vos visse mundanas tão asinha
Em tão compridos anos de tormento.

Os meus castelos, que fundei no vento,
O vento mos levou, que mos sostinha,
Do mal, que me ficou, a culpa é minha,
Pois sobre cousas vãs fiz fundamento.

Amor com falsas mostras aparece,
Tudo possível faz, tudo assegura,
E logo no melhor desaparece.

Oh dano grande, oh grande desventura!
Que, por pequeno bem, que em fim falece,
Se aventura um bem que sempre dura!


em Antologia Literária Comentada: Época Clássica - Século XVII, organização e comentários de M. Ema Tarracha Ferreira, de acordo com o programa de Português para o Curso Complementar do Ensino Secundário, Lisboa: Editorial Aster, s/d, p. 41.