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Levanto-me com a cara inchada, os dedos das mãos inchados. A cidade lá fora acordou há muito. Será que dorme? Talvez seja exagerado dizer que não, que não dorme. Afinal, não estamos em Nova Iorque. Há uma leve brisa a agitar as árvores na alameda. Quando não há vento forte, há sempre uma leve brisa. Os cortinados do quarto agitam-se ao seu sabor. Refrescam o quarto quente, abafado da noite. A dose de coragem líquida já percorre as veias e começa a surgir uma outra disposição. Falta o imperativo duche. Mas, antes, a máquina-de-lavar deve cumprir a sua função. Nos prédios em frente não se vê movimento. Nunca lhes vi movimento. Nem uma luz acesa à noite. E, também, nunca pensei muito nisso. Não é agora que o vou fazer.

1 comentário:

Inês disse...

Ler-te recorda-me com alguma frequência Coimbra de Matos, psicanalista nascido no Douro e que foi meu professor no ISPA. E lembro-me dele nos teus escritos essencialmente pela caracteristica inerente de melancolia que se sente na cadência dos teus textos. E é recordação agradavel essa.

(quis apenas deixar esta nota)

Obrigada Manuel,
Inês G.