Por caminhos não percorridos
Por caminhos não percorridos,
Pela vegetação das margens das lagunas,
Fugindo da ostensiva vida,
De todas as normas já promulgadas, dos prazeres, benefícios, convenções,
Tudo isso com que, demasiado tempo, alimentei a minha alma,
Convencido enfim de que as normas ainda não promulgadas, convencido de
que a minha alma,
De que a alma do homem por quem falo descobre a alegria nos
companheiros,
Aqui, a sós, longe do tumulto do mundo,
Em harmonia com as aromáticas línguas que me falam,
Sem envergonhar-me mais (pois neste lugar distante, como em nenhum
outro posso abandonar-me,)
Entregue à vida que não se revela ainda que tudo contenha,
Decido-me hoje a cantar apenas os cantos de viril afecto,
Projectando-os ao longo da plena vida,
Legando, desde já, as formas de másculo amor,
Pela tarde deste delicioso Setembro dos meus quarenta e um anos,
Dirijo-me a todos os homens que são ou foram jovens,
Conto-lhes o segredo das minhas noites e dos meus dias,
Celebro a necessidade de companheiros.
em Cálamo, versão de José Agostinho Baptista, Lisboa: Assírio & Alvim, 3ª edição, colecção Gato Maltês, n.º 8, 1999, pp. 25-27.