— Sim. Não se pode obrigar as pessoas a
sentirem-se felizes, não acham? Aliás, essa palavra… Adiante. Dêem a um homem
uma boa esposa, uma casa com jardim, trabalho certo, interessante e bem
remunerado, férias pagas, máquinas de lavar, de descascar, de limpar; portanto,
tempo de lazer, e eu acrescento o amor das plantas e das viagens, e esse homem
pode sentir-se profundamente angustiado, profundamente infeliz…
— Que blasfémia!
— Se não se compreende um postulado destes é
porque não se compreenderá nunca o homem no mais fundo da sua humanidade. Robot
aparentado e identificado com o plástico, o vidro acrílico, a falsa madeira, o
material sintético que o rodeia, devendo reagir assim, porque sim,
e assado, porque não, e desligado do
seu eu profundo, de todas as suas ânsias e interrogações mais remotas, aquela
inquietação e sentimento de solitude que carrega em si como um estigma…
em Viver com
os outros, Lisboa: Portugália Editora, 2ª edição, 1965, p. 155.
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