— Sim, os teus padrões morais são altos,
simplesmente não são os mesmos que esta sociedade promove. As reuniões de bloco,
por exemplo, tu abomina-las. Os acusadores sem rosto. Os «juvenis», espiões mecânicos.
Esta guerra tresloucada pelos arrendamentos. A angústia, a tensão; olha bem
para Myron Mavis: nos píncaros da suspeita e da culpa. Tudo se torna
pecaminoso. E o medo da contaminação, o medo de também cometer um acto
indecente. O sexo é mórbido, as pessoas perseguidas por actos que estão na sua
natureza. Toda esta estrutura é como uma câmara de tortura gigantesca, com
todos a espiar os outros, a tentar descobrir-lhes um pecado, uma maneira de os
destruir. A caça às bruxas, o terror, a censura, a queima de livros. O evitar
que as crianças ouçam a palavra mal. A Sociedade Moral foi inventada por
doentes e só serve para fazer mais doentes!
em O Profanador, tradução de Manuel Eduardo dos Santos do original The Man Who Japed (1956), Lisboa:
Publicações Europa-América, Colecção Livros de Bolso – Ficção Científica, nº
71, s/d, p. 91.
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