Um poema de Nuno Félix da Costa



Da natureza da vida

A imortalidade da alma para muita gente
sopra a harpa do vento tal como o barco flutua
Cada gota do mar que o faz flutuar pertence ao movimento
como a alma pertence ao antecedente da Noite

No movimento da vida flutua e gasta-se a marulhar
Ouve-se o reversível do crepúsculo o denso calor do presságio
tudo a conformar-se no amor — a reencarnar no incompreendido
a sustentar o começo e o termo de um devir infindável

Mas na imortalidade da alma cujo acontecer subtil pode
não acontecer totalmente — a vida arrasta a alma como um poema
falha — ou a vida sobrepõe-se à alma como um poema

triunfa — e para muita gente a alma e a vida coincidem
O triunfo da vida espraia-se na vaga que se requebra
e ao retornar ao amor perde-se e revive


em Catálogo de Soluções, Lisboa: Cortex Frontal, 1ª edição, 2010, p.31.