Um poema de Sandra Augusto França


Quatro gritos para um longo silêncio

iv.

tenho um longo rosário de
datas com que os amigos
se habituaram a ver-me tricotar os dias,
espreitando-os
por entre malhas indecisas.

ouço o ruído da minha própria maresia
assolando
uma constelação encoberta sob a névoa
deste eterno silêncio.

depois uma ave sobrevoou tudo isto em círculos
insistentemente.

foste.

quando eu seria capaz de
bordar a fios de água
este amor.

em Estações, Lisboa: Difel, 1ª edição, 1998, p.48