Discos pedidos (17)


para o meu primo Tó-Mané,
que foi trabalhar para a Escócia

Já não sei dizer quando é que os ouvi pela primeira vez, mas lembro-me que as guitarras entraram-me nas veias e nunca mais de lá saíram. Podia contar-te algumas histórias que se passaram ao som de Darklands; é melhor não: ainda há muita gente viva. Mas arrisco uma (que tanto pode ser verdade como mentira, tu depois decides): foi numa cidade perdida em finais da década de 90. Às vezes penso que nunca abandonei esses anos, que ainda lá estou, a vaguear agarrado ao meu sobretudo – fiel companheiro das noites frias – e a olhar para o chão, sempre o chão. Sei que, de repente, alguém se aproximou. Sabia o meu nome. Sabia quem eu era e conhecia umas estórias sobre mim. Perguntou-me se tinha lume. Na altura eu andava com um isqueiro no bolso, caso alguma rapariga fizesse pergunta igual (o que raramente acontecia). Acendi-lhe o cigarro e vi como inspirava profundamente. Perguntou-me se queria beber um copo e fomos para o bar mais próximo. Quando entrámos: April Skies. Não sei se já reparaste: o céu em Abril é uma coisa terrível. Já o poema diz: April is the cruellest month (T.S. Eliot). Bebemos absinto e um par de cervejas. O resto, primo, é rock and roll.

1 comentário:

António Lopes disse...

Assim as saudades de uma tarde de café a ouvir-te falar são maiores.

Um abraço sentido.