Discos pedidos (13)





para o  Rui Matos e Rui Massano



Foram tardes e tardes com o rio ao fundo. Foi uma Sony UX de 60 minutos sempre a tocar no walkman que trouxeram de Paris, França. Foi a MTV desviada do satélite e redistribuída pela vila toda. Foi o programa 120 Minutes. Foi um corpo suspenso na pedra quente pelo sol do fim da tarde. Um outro corpo a descobrir que o desejo, afinal, não é pecado mas sim algo natural, que nos distingue do comum dos animais, pois esses têm cio e é só uma vez ou duas por ano, dizias. Foi o silêncio das noites de Agosto numa vila entalada no umbigo do mundo. Foi o correr pelas ruas aos gritos, beber submarinos e outros venenos na esplanada do Vinagre ou onde calhava. Foi ter dezasseis anos. Foram os teus olhos azuis a olhar para mim e eu sem ser capaz de dizer que estava por ti apaixonado (pelo menos enquanto o Verão durasse). Foi o verbo ser feito carne pelos telhados do mundo (Whitman). Foi o cabelo curto, não fosse eu confundido com os guedelhudos – como diziam os outros –  que começavam a estar na moda. Foi a outra rapariga que não tinha olhos azuis e por quem também me apaixonei. E a outra. Foi o meu quarto. Foram os livros. Foi, às vezes, o melhor dos Verões.

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