Penso que um dos principais objectivos da grande literatura – daquela que faz ferida – é desmascarar e lutar contra a hipocrisia. A questão é saber o que se entende por grande literatura. Orwell? Bukowski? Miller (Henry, not Arthur)? Sem qualquer dúvida: Céline. Ele é, por excelência, o grande desconstrutor da hipocrisia humana. Basta ler Viagem ao Fim da Noite. Mas não podemos esquecer Morte a Crédito, e, também, os relatos de Castelos Perigosos e Norte. Céline combateu sempre a hipocrisia. Até a sua (que, a bem da verdade, tinha uma boa dose dela). É claro que as simpatias nazis não o favorecem. Não fica muito bem na fotografia – como é costume dizer. Mas quem disse que ele queria ficar bem na fotografia? Para mim existem dois tipos de autores. Melhor: três. Os que querem ficar bem na fotografia; os que não se importam de ficar mal na fotografia; os que abdicam da fotografia. São estes dois últimos que me interessam, inspiram. O problema está em admirá-los e, ao mesmo tempo, querer ficar bem na fotografia.
2 comentários:
Quatro: os que querem ficar mal na fotografia.
(os ditos escritores malditos...)
~CC~
É exactamente isso, ainda que o nunca tenha pensado. Também acabo por (também) ter problemas com o Céline e agora com o Knut Hamsun. Moral e literatura probably don't mix. Excelente post.
Enviar um comentário