Horas breves de meu contentamento,
Nunca me pareceo, quando vos tinha,
Que vos visse tornadas tão asinha,
Em tão compridos dias de tormento.
Aquelas torres, que fundei no vento,
O vento as levou já, que as sostinha;
Do mal, que me ficou, a culpa é minha,
Que sobre coisas vãs fiz fundamento.
Amor, com rosto ledo e vista branda,
Promete quanto dele se deseja,
Tudo possível faz, tudo segura;
Mas des que dentro n’alma reina e manda,
Como na minha fez, quer que se veja
Quão fugitivo é, quão pouco dura.
em Textos Literários - Século XVI, (org.) Beatriz Mendes Paula e M. Ema Tarracha Ferreira, selecta organizada de acordo com o programa oficial do VI ano dos Liceus, Lisboa: Editorial Aster, 3ª edição corrigida e aumentada, 1975, p. 430.
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