Um poema de Diogo Bernardes


Horas breves de meu contentamento,
Nunca me pareceo, quando vos tinha,
Que vos visse tornadas tão asinha,
Em tão compridos dias de tormento.
Aquelas torres, que fundei no vento,
O vento as levou já, que as sostinha;
Do mal, que me ficou, a culpa é minha,
Que sobre coisas vãs fiz fundamento.
Amor, com rosto ledo e vista branda,
Promete quanto dele se deseja,
Tudo possível faz, tudo segura;
Mas des que dentro n’alma reina e manda,
Como na minha fez, quer que se veja
Quão fugitivo é, quão pouco dura.

em Textos Literários - Século XVI, (org.) Beatriz Mendes Paula e M. Ema Tarracha Ferreira, selecta organizada de acordo com o programa oficial do VI ano dos Liceus, Lisboa: Editorial Aster, 3ª edição corrigida e aumentada, 1975, p. 430.

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