«Não mas compreendam eu tenho de explicar tudo isto porque não sei, não sabemos quanto tempo me resta e preciso de trabalhar no, de terminar este trabalho enquanto, bom trouxe para aqui esta pilha de livros apontamentos papéis recortes e sabe Deus que mais, tenho de pôr ordem nisto tudo deixar as coisas organizadas para repartir os meus bens e arrumar de vez com todas as preocupações e consumições anexas enquanto aqui estou para ser aberto e raspado e cosido e aberto novamente esta maldita perna olha para isto, toda coberta de grampos parece aquela armadura japonesa antiga da sala de jantar sinto-me como se estivesse a ser desmantelado peça a peça, apartamentos, casas de campo, estábulos, pomares e tantas decisões a tomar tantas distracções raios as partam tenho aqui algures neste monte de papelada os registos de propriedade as plantas as escrituras, pôr isto em ordem antes que tudo entre em colapso e seja devorado pelos advogados e pelos impostos (…)»
Ágape, Agonia, tradução de José Miguel Silva, Porto: Ahab, 2010, p 27.
Ágape, Agonia, tradução de José Miguel Silva, Porto: Ahab, 2010, p 27.
*se isto não é um grande começo, então eu não sei o que é um grande começo, porra!
1 comentário:
Leio este início do livro deste escritor que não conheço e quero lê-lo todo. Que maravilha, sentir que vou apaixonar-me por outro livro!!! obrigada
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