Não queremos poesia de género algum,
Queremos truques mágicos de saco,
Procuramos tapar na existência um fatal buraco.
E apesar de esforço insano não tapamos nenhum.
Mas que sabeis vós outros do secreto aspirar,
Dos soluços de divina histeria que em gargantas choram,
Quando, plenamente absorvidos pelo haxixe da alma elementar,
Beijamos o primeiro degrau, para além de cujo limiar
Eoneamente os deuses moram?
em A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas, selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento, Lisboa: Relógio D' Água, 2001, p. 37.
1 comentário:
Foi precisamente este poema que me levou a comprar esse título, mas o que mais gosto de ler dos expressionistas é o Gottfried Benn, sobretudo quando é visceral:
«A boca de uma rapariga que passara muito tempo no canavial
estava tão roída.
Quando lhe abriram o peito, o esófago estava todo esburacado
Finalmente, num caramanchão sob o diafragma
encontrou-se um ninho de ratinhos.
Um dos irmãozinhos estava morto.
Os outros tinham vivido do fígado e dos rins,
bebido o sangue frio e passado
aqui uma bela infância.
Mas depressa também tiveram uma bela morte:
Deitaram-nos todos à água.
Ah, como os pequenos focinhos chiavam!»
Se tiver curiosidade tem mais poemas dele aqui: http://mal-situados.blogspot.com/search/label/gottfried%20benn
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