«E, uma vez que Deus, sendo bom, fez todas estas coisas boas, donde vem então o mal? Na verdade, o maior e supremo bem fez boas as coisas mais pequenas, mas, no entanto, tanto o Criador é bom como são boas todas as coisas criadas. Donde vem então o mal? Será que, naquilo donde as fez, havia alguma matéria má, e formou-a, e ordenou-a, mas deixou nela qualquer coisa que não teria transformado em bem? E porquê isto? Será que, embora sendo omnipotente, tinha poder para transformá-la e mudá-la na totalidade, de modo a que nada de mal restasse? Finalmente, porque é que quis fazer dela alguma coisa e não preferiu fazer, com a mesma omnipotência, com que ela não existisse em absoluto? Ou, na verdade, será que ela podia existir contra a vontade dele? Ou, se era eterna, porque a deixou ser assim durante tanto tempo, durante os infinitos espaços anteriores do tempo, e tanto tempo depois lhe pareceu bem fazer alguma coisa a partir dela? Ou então, se de repente quis fazer alguma coisa, sendo omnipotente, podia preferir fazer com que ela não existisse, e que só ele próprio fosse o inteiramente verdadeiro, e supremo, e infinito bem? Ou, se não era bem que não fosse fabricada alguma coisa boa e a criasse ele, que era bom, suprimindo e reduzindo a nada a matéria que era má, podia ele próprio criar uma matéria boa donde criasse todas as coisas? Pois não seria omnipotente, se não pudesse criar alguma coisa de bom, a não ser sendo ajudado por aquela matéria que ele próprio não tinha criado’.»
em Confissões (Livros VII, X e XI), tradução de Arnaldo do Espírito Santo / João Beato / Maria Cristina Castro-Maia de Sousa Pimentel, Colecção Textos Clássicos de Filosofia, Covilhã: LusoSofia Press, Universidade da Beira Interior, 2008, p. 23.
em Confissões (Livros VII, X e XI), tradução de Arnaldo do Espírito Santo / João Beato / Maria Cristina Castro-Maia de Sousa Pimentel, Colecção Textos Clássicos de Filosofia, Covilhã: LusoSofia Press, Universidade da Beira Interior, 2008, p. 23.
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