Um poema de José Régio


Epitáfio para um Poeta

As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com o seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.
Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Não vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?
Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!

em Não Vou Por Aí! - Antologia Poetéca (sel. e org. de Isabel Cadete Novais), V.N.Famalicão: Quasi, 1ª edição, 2000, p. 110.

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