Mais uma vez: Céline



Não é novidade nenhuma. Tenho uma visceral admiração por Céline. Pouco me importam as suas simpatias políticas. O que será mais terrível: o declarado anti-semitismo e a declarada simpatia nazi de Céline ou o arrivismo camuflado e hipócrita de Aragon? Como escreveu Geoges Darien: «Ah! Sim, pancada por pancada prefiro as chicotadas impiedosas de um carrasco iracundo, que fere sem contemplações, à flagelação hipócrita do homem que apanha o vigilante de costas para perguntar: «Magoei-te»?».

12 comentários:

Filipe Guerra disse...

que me conste, aragon, pelo menos, não era delator, céline sim, e eu, por gajos de qualquer pide, não tenho nenhuma visceral admiração. É claro que este comentário não é literário, nem sequer político, é histórico.

manuel a. domingos disse...

caro GAF:

também é histórico que Aragon defendeu o pacto germano-soviético, que era fã de Estaline (apesar do "mea culpa", depois da invasão da Checoslováquia).

quanto ao facto de ser ou não delator... concordo que Céline o tenha sido (como diz: é histórico), mas não o terá sido Aragon? os anos na Resistência não terão promovido algum acto delator? Custa-me acreditar que tal não tenha acontecido, apesar de não ser histórico. Contudo, e como todos sabemos, a História, às vezes, não é "feita" com todos os acontecimentos e com todos os intervenientes.

Filipe Guerra disse...

É claro que, pelo seu brilhante «raciocínio», o Aragon PODE TER SIDO delator porque andou metido na Resistência (o Manuel Domingos é contra a Resistência?), eu POSSO TER SIDO delator porque andei metido na catequese, o Manuel Domingos PODE SER OU TER SIDO delator porque anda metido nisso do professorado, todos podemos ser delatores porque andamos metidos em qualquer coisa.

manuel a. domingos disse...

Caro GAF:

vou por partes:

1. Não sou contra a Resistência nem contra nenhuma resistência. Sou pela Liberdade. Não sei se isso transparece muitas vezes, mas sou pela Liberdade.

2. O meu brilhante «raciocínio» é o raciocínio que me é possível. Sei que ainda tenho muito para aprender. E espero aprender.

3. Todos nós somos delatores. Tem dúvidas disso? Eu não. Agora depende do que entendemos por delatar: acusar em segredo ou revelar, dar a conhecer? É claro que Céline o foi, sem dúvida, no primeiro caso. Como acredito que Aragon também o foi. E sei que volto a repetir o meu brilhante «raciocínio».

4. No entanto, que fique claro que não aceito nem nunca aceitarei como válido o colaboracionismo de Céline com os nazis.

L.N. disse...

Céline poderá ter sido o pior canalha - é-me indiferente,mas acho, e é isso que me interessa, o livro "Uma viagem ao fim da noite", um dos melhores de sempre; Céline uma figura incontornável da literatura. O que me entristece é haver pessoas que pelo facto de lermos Céline nos considerarem imediatamente da direita radical. Tenho, por exemplo, vários livros de Adolf Hitler, isso não faz de mim nazi.

Outra obra dele que aconselho vivamente a leitura é "Morte a Crédito".

manuel a. domingos disse...

Caro Luís Filipe Nunes:

Como pode ter lido nos comentários trocados entre mim e GAF, nunca se colocou em causa o talento literário de Céline, daí GAF ter dito, no primeiro comentário, «é claro que este comentário não é literário, nem sequer político, é histórico.».

Julgar alguém pelos livros que lê é, quanto a mim, uma imbecilidade. Não o faço nem acredito que GAF o faça.

Cumprimentos

L.N. disse...

Não me referia a nenhum dos comentários. Mas, por ridículo que pareça, já me fizeram observações do género.

Filipe Guerra disse...

Nunca poria em causa a qualidade literária do grande Céline, o manuel domingos viu bem. Mas ainda estou sob o efeito de uns relatórios de que falou o blogue Republique des Lettres em que Céline fornecia a um responsável nazi durante a ocupação de Paris uma lista de escritores a «eliminar». Dizem que o homem já estava louco nessa altura. Luis Filipe Nunes, não me parece que a direita radical goste muito de escritores como Céline (do homem talvez gostem), porque tinha um pensamento crítico de que a direita não gosta (venha donde vier esse pensamento).

A. Pedro Ribeiro disse...

interessante, muito interessante. Também já li a "Viagem ao Fim da Noite" e nunca, jamais, serei de direita ou de extrema-direita. Dali também não era grande coisa como pessoa mas era genial.

Anónimo disse...

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consigo separar sem problemas a obra do autor. era lamentável não ler 'viagem ao fim da noite' apenas por não concordar com as ideologias do tipo.
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godgil disse...

Bem lembrado Manuel!

Admiro Céline pela genialidade literária e pela coragem com que assumiu as suas ideias, sem nunca vacilar perante a intelligentzia cripto-comunistas que prevaleceu no pós guerra. Uma pandilha educada pelo sinistro Breton (o tal que mandou tirar o crucifixo do pescoço a Georgette Magritte numa reunião do grupo surrealista e que determinou o afastamento do pintor belga seu marido da ortodoxia do movimento) e por Jdanov (o não menos sinistro mentor de Estaline, que detestava intelectuais e criadores em geral). Céline foi um espírito livre. Um insulto, claro está, para quem gosta de funcionar em rebanho. De preferência com boas intenções à mistura. Curiosamente, ando a reler a "Viagem ao fim da noite", na tradução (antiga) de Aníbal Fernandes. Paralelamente, leio a número especial do Magazine Litteraire que lhe foi dedicado e que conseguir encontrar recentemente num alfarrabista em Bruxelas. Recentemente, li também as "Memórias de um fascista", de Lucien Rebatet, romancista, jornalista e crítico musical. próximo do movimento Action Française e colaboracionista assumido. A parte final do livro, que relata a sua prisão e posterior perdão, resulta precisamente de um volume consagrado a Céline, no qual é relatada a sua passagem por Sigmaringen, numa residência emprestada pelos alemães, após a libertação de França.

A. Pedro Ribeiro disse...

André Breton foi um espírito livre.