Ser bonzinho


Uma das tarefas que se revela difícil para mim nos dias de hoje é ser bonzinho. Ser bonzinho dá trabalho. Requer concentração – o mais difícil de tudo – pois a qualquer momento pode sair um “vai pró caralho e não me fodas mais os cornos seu imbecil de merda”, e ninguém quer que isso aconteça. Por isso temos de estar sempre concentrados. E atentos também. Principalmente a uma qualquer velhinha que deseje atravessar a rua (nota: não é necessário estar vestido de escuteiro). Ser bonzinho é um trabalho a tempo inteiro. O pior é que não há subsídio de desemprego quando deixa de haver trabalho (ou quando nos fartamos de ser bonzinhos). Há antes olhares de desdém, dedos apontados que dizem “aquele além já não é bonzinho”, café queimado quando vamos beber a bica ao sítio do costume, pastéis de nata com quinze dias, e todas as coisas más que possam imaginar. Ser bonzinho é mesmo díficil.

2 comentários:

A. Pedro Ribeiro disse...

bem apanhado.

Anónimo disse...

e fazer a barba, ok?