«Esta história do TGV, confesso, está a depauperar-me os nervos. Entontecido pela derrota eleitoral, o governo do supremo engenheiro já não tem certeza de que os portugueses entendam bem e, por isso, hesita, faz que vai e não vai, não coisa nem deixa o terreiro livre, e a dama escanzelada da política de verdade regozija e quer mais, pede explicações, esclarecimentos - goza o momento. Para falar absolutamente verdade, porém, conviria explicar que a tal escanzelada dama, ora triunfante, era ministra das Finanças de um governo que assinou com Espanha um documento prevendo cinco linhas de TGV, cinco, e o país era, parece, exactamente o mesmo, cronicamente deficitário, e eram exactamente as mesmas as gerações futuras que o projecto hipotecaria. A bem da verdade, isto é tudo um bocadinho idiota, sobretudo por ser bastante evidente que há mesmo gente capaz de ser enganada por golpezinhos baixos e falsas verdades de gente desta. Eu nem sequer gosto do TGV, mas, face à qualidade do debate político em Portugal, surpreendo-me, às vezes, a simpatizar com o bicho.»
Manuel Jorge Marmelo em Teatro Anatómico
Nota: destaque da minha responsabilidade.
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