Academia


Durante estes dias andei a ler Por Quem Os Sinos Dobram. Bukowski, no seu romance Ham on Rye, refere-se a Hemingway de uma forma bem curiosa: «that guy could really lay a sentence». E na verdade é isso que acontece. Nenhuma frase neste romance está deslocalizada. É claro que os diálogos ajudam a isso. Não são diálogos pastosos, que se arrastam. São directos, curtos. E mesmo quando o autor recorre ao monólogo interior, fá-lo com consciência da sua importância, evitando ao máximo não cansar o leitor com excessivas deambulações. Penso que Hemingway sabia bem o que era ser leitor: sabia o que “agarrava” e o que “desprendia” o leitor. E isso é muito importante em literatura – pelo menos do meu ponto de vista. Poucos são os escritores que pensam no leitor. Duvido que James Joyce tenha pensado no leitor quando escreveu Ulisses. Duvido que Lobo Antunes pense no leitor. Porquê? Porque durante algum tempo vingou a ideia de que contar uma história não interessa em literatura. E os livros eram escritos para a academia, que acenava com a cabeça em concordância ou discordância, pois é essa a sua principal função: acenar com a cabeça.

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