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Acordei lixado. Um amigo aturou-me. E logo ele, que estava sem paciência para. Mas aguentou até ao possível e depois disse-me que estava sem paciência. Ri-me. E fiquei melhor. A conversa circulou à volta de muita coisa: da vida, da morte, da literatura, de tudo um pouco. O meu amigo às vezes parece optimista, mas sei que também deve ter os seus fantasmas. No entanto, encara tudo de uma maneira diferente. Não parte para as coisas derrotado – ao contrário de mim. É um defeito meu. Parto para tudo como um derrotado. Eu sou um derrotado. O meu pessimismo é genético. Bem como o meu egoísmo. E não me digam que é pelo facto de ser filho único: conheço muita gente com irmãos, e são piores do que eu. O Homem, no fundo, é egoísta. E na verdade só o egoísmo o pode salvar. Não me venham com tretas de que temos que ser uns para os outros. Temos que ser, cada vez mais, egoístas. Só o egoísmo nos pode salvar. Não é a poesia, nem a paz mundial, nem a descida do IVA ou das taxas de juro ou do preço dos combustíveis. É o egoísmo. Eu sou egoísta e com orgulho. E reparem que o egoísmo não é um pecado capital. A gula é. A inveja é. A luxúria é. A preguiça é. A ira é. A avareza é. A vaidade é. Mas o egoísmo, não. Também não é uma virtude, eu sei. Mas, quem te disse, leitor, que as virtudes me interessam?

2 comentários:

A. Pedro Ribeiro disse...

vais ao encontro de Nietzsche.

manuel a. domingos disse...

só espero não acabar como ele