Falar dos A Certain Ratio é ter consciência que eles foram uma espécie de parente pobre de todo um movimento criado por Tony Wilson em torno da sua editora: a Factory. Não podemos esquecer que na Factory existiam nomes como Joy Division e Durutti Column. Os A Certain Ratio sempre estiveram à sombra dos primeiros. Existem semelhanças que são evidentes: o nome do grupo fora retirado da letra de uma canção de Brian Eno, que por sua vez fazia referência a um discurso de Adolf Hitler e a voz do vocalista é bastante semelhante à de Ian Curtis. Por outras palavras: os Joy Division eram algo de genuíno – um grupo de jovens que tinha afinidades entre eles e precisavam de tocar pela simples razão de não terem outra alternativa; os A Certain Ratio eram algo criado e pensado por uma pessoa – Tony Wilson – para, supostamente, contrabalançarem com os Joy Division: apresentavam-se em palco todos vestidos de igual, uma espécie de uniforme que fazia lembrar a Juventude Hitleriana e até os cortes de cabelo foram pensados para passar uma mensagem de uniformidade. Concluindo: os A Certain Ratio eram o elemento mais artie da Factory. E depois há a sonoridade. A sonoridade dos A Certain Ratio nunca foi a sonoridade da Factory dos inícios dos anos oitenta, embora tivessem lançado a semente para, por exemplo, uns New Order ou Happy Mondays. Enquanto os Joy Divison faziam música para se ouvir e ser pensada, os A Certain Ratio faziam música para ser dançada: veja-se a título de exemplo temas como “Do the Du”, “Blown Away” ou “The Fox”, para não falar em “Si Fermir o Grido”, que revela de uma forma bastante clara a influência que o latin jazz teve no grupo, ou “Skipscada”. De outra maneira não podia ser. Os elementos dos A Certain Ratio vinham de todos os quadrantes da música, desde o jazz ao funk, passando pelo rock progressivo, a música electrónica e experimental. Os A Certain Ratio combinavam todas estas influências de um modo perfeito: o termo fusão assenta-lhes que nem uma luva. Contudo, os A Certain Ratio não fizeram músicas só para ser dançadas. Também havia Manchester presente nas suas músicas. Temas como “Faceless”, “Flight”, “Choir” e “All night party”, entre outras, revelam o lado mais factoriano do grupo: «I drink all night/my life is only a hungry word».
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