Cheguei tarde a Albert Cossery. Eu sei que é recorrente esta ideia em mim: a de chegar tarde à literatura. Mas adiante. Um dia lá me convenci a comprar um dos seus livros e lê-lo: A Casa da Morte Certa. Li-o em dois dias. Estava na Figueira da Foz. Era verão. Fiquei aterrado. Estava em casa e comecei a olhar para as pequenas fissuras das paredes, para a luz morna que entrava pela pequena janela no tecto. O calor começou a fazer-se sentir ainda mais. Nunca entrei tanto num livro que li (exceptuando talvez o A Oeste Nada de Novo, logo eu que nunca participei numa guerra – exceptuando as do Bairro, onde quase sempre fazia parte dos derrotados). E é dos derrotados, dos vencidos da vida, dos marginais que Cossery fala. Ele próprio não seria um derrotado? Um vencido da vida? Um marginal? Não sei. No entanto, é alguém que traçou o seu próprio caminho, que recusou fazer parte da turba. Como todos os outros que nos confrontam directamente com nós próprios, Albert Cossery estará, porventura, condenado ao esquecimento. Da minha parte, continuarei a lê-lo.
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