Escrevo neste tempo que guardei só para mim (2)


Leio cada vez mais e cada vez mais tenho a certeza que não sei escrever. Este é um dos problemas de ler os outros: entramos em contacto directo com a nossa mediocridade. Sim, pensava, até relativamente pouco tempo, que sabia escrever, como pensava que sabia nadar, até ao dia em que um professor de natação me disse que eu sabia era boiar. E tinha toda a razão. Na escrita é a mesma coisa: há os que sabem escrever e aqueles que andam a boiar na escrita, que passam por ela ao de leve sem deixar marca. Sim, todos nós, consciente ou inconscientemente, queremos deixar uma marca, nem que seja muito pequena, mas deixá-la. Todos queremos entrar para a História da Literatura. Isso de escrever para a gaveta é uma grande falácia. Ninguém escreve com a intenção de não mostrar aquilo que escreve. Embora seja, muitas vezes, um exercício onanista, esperamos sempre que alguém nos leia, que alguém diga: isto está fantástico! devias publicar! Mas como isso muitas vezes não acontece, alguém teve a brilhante ideia de inventar os blogs. Enquanto uns publicam aquilo que escrevem em grandes editoras, cujo critério de escolha muitas vezes se resume à cara bonita que vai ficar na contracapa, outros publicam em blogs e esperam que alguém comente, que alguém lhes dê atenção, que alguém lhes diga: isto está fantástico! devias publicar! Ou então: o que escreves é uma merda! quem te disse que sabias escrever? ainda tens que comer muita papa Milupa para escreveres como deve ser! Ignorando que essa pessoa possa preferir Nestum. E tudo isto para dizer o quê? Talvez que preferia nunca ter entrado neste mundo que dizem das letras, onde a maioria dos analfabetos são precisamente aqueles que sabem ler (eu incluído). Mas não há nada a fazer, pois uma vez que se experimenta é como a Coca-Cola de Fernando Pessoa: estranha-se, mas depois entranha-se.

Nota: texto recuperado daqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

houve alguém que disse que escrever é como nadar numa piscina. uns nadam onde têm pé e os outros arriscam mais longe.

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