Ler cansa

Cada vez tenho mais vontade de escrever textos longos, que se prolonguem no infinito e que sejam dificílimos de ler. Depois sento-me, ajeito o corpo à cadeira, chego o teclado para mim, afasto-me o mais possível do ecrã e começo a escrever. E não sai nenhum texto longo. Eu juro que tento. Leio os clássicos e tento imitá-los. Por exemplo Proust ou Joyce (devo dizer que nunca li nada do primeiro e que só li um livro do segundo e tentei ler outro). Mas, sinceramente, canso-me logo de os ler (repito: nunca li nada do primeiro, mas canso-me muito rapidamente a ler Joyce e, honestamente [começo a utilizar muitos advérbios], não sei como é que um gajo que era quase cego escreveu tudo aquilo. O começo do Finnegans Wake é bom para tirar a tusa a um gajo: «
riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth Castle and Environs»). E o mesmo se passa com os livros de filosofia que tentei ler. Já me disseram, e eu acredito, que comecei por filósofos difíceis, alguns deles intragáveis. No entanto, eu penso que não fui talhado para ser leitor de filosofia. Às vezes questiono-me se fui talhado para ser leitor. É que ler, a bem da verdade, cansa caraças! Não acredito naqueles gajos que dizem que ler é um prazer e coisas do género. Ler é cansativo. Nunca entendi como é que, supostamente (lá está outra vez um advérbio), se vendem tantos livros neste país.

1 comentário:

abc disse...

gostaria saber que futuro vês para os livros.