Quarto Escuro #6


Não é fácil habitares uma nova casa. Há sempre um silêncio que não é o teu silêncio. Os olhos têm que se habituar à nova luz, o corpo ao novo espaço, à nova cama. Não é fácil encontrar uma cama vazia que não é a tua cama vazia. Esticar o braço, esperar um toque. Esse toque não acontecer. Nada daquilo que vês é familiar. Com o passar do tempo nada muda. Cresce apenas a indiferença em relação aos objectos, à luz, ao espaço, mas nunca à cama. Ela será sempre estranha. Falta o toque, o calor de um outro corpo, o aroma dos cabelos, acordar de manhã com um braço sobre o peito: o primeiro sorriso do dia. A casa cresce com a noite. Ouves o passar do tempo num relógio antigo. A lareira na sala não consegue esconder o espanto. O corredor guarda portas fechadas. Nunca se deve abrir uma porta que não foi por nós fechada. Não se devem perturbar as conversas. Os segredos guardados. Lá fora a noite avança. Dentro da casa combate-se o vazio. Escreve-se.

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