Quarto Escuro #15

Por vezes chegar a casa não é fácil. Principalmente quando sabemos o que nos espera: o vazio, o frio das divisões que nunca chegas a utilizar. E depois há a caneta, a folha de papel. Esperam-te. A caneta espera que nela pegues e corrompas a folha em branco. Sim, escrever não é mais do que corromper uma folha de papel. A leitura, isso, é outra história. Há quem se deixe corromper por aquilo que lê. São esses os textos que melhor cumprem a sua função. Outros deixam apenas leves marcas, que, por vezes, evoluem e começam a corromper. Sentas-te. A caneta aguarda o teu toque. A folha também. Gosta de sentir a caneta a percorrê-la com suavidade. Outras vezes com força contra o tampo da secretária. Às vezes parece pedir que sejas rápido, que forces um pouco mais as palavras que nela escreves. Outras: que demores, que não sejas apressado, tens tempo. Olhas pela janela. Ninguém na rua. É tarde. Faz frio.

2 comentários:

MJLF disse...

Escrever é um combate à morte!

manuel a. domingos disse...

se é.
obrigado pelo comentário, maria joão.