Sem mácula de realidade
«A literatura, que é a arte casada com o pensamento, e a realização sem a mácula da realidade, parece-me ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal.»
Bernardo Soares, Livro do Desassossego - 1ª Parte, Lisboa: Publicações Europa-América, 2ª edição, 1995, pág. 238.
6 comentários:
Pois é, os humanos também são bichos, mas não são apenas bichos porque não foram os bichos que inventaram a literatura e a arte.
Maria João
Sempre quis entender o "Livro do Desassosego"... mas passados sempre dez minutos, acabo por desistir.
maria joão: tens toda a razão. mas o esforço humano parece mais vezes animal que verdadeiramente humano. se fosse mais humano, talvez alguns dos problemas existentes se resolvessem mais rapidamente.
a. lopes: tenta não o entender. tenta só ler. mas não ligues muito àquilo que ele diz/escreve, se não ainda dás em louco.
O mundo nunca foi bom e existem problemas que nunca se resolvem ou poderão resolver. Os humanos também são bichos, se não viviam no panteão dos deuses, mas parece que estão condenados à miseravel condição de humanos e a viverem por aqui no mundo. A arte, a literatura, o amor talvez sejam as formas que os humanos encontraram para elevar as suas existencias, para se libertarem da sua condição de finitos e efemeros bichos. Isso porque temos a terrivel consciencia do que somos, coisa que os bichos não têm.
Maria João
é isso que a mim me "irrita": o estar condenado à miserável condição de humano. é por isso que às vezes preferia ser bicho bicho e não bicho humano. cada vez que vejo um cão, nem que seja um cão vagabundo, tenho inveja dele, principalmente quando os vejo deitados ao sol, relaxados, sem preocupações.
quanto à questão do o mundo nunca ter sido um lugar bom: acredito que num outro tempo o foi: no tempo em que o homem ainda não tinha consciência da sua condição humana. quando ganhou essa cosnciência é que começou tudo a descambar, a dar para o torto.
Tenho mais inveja dos gatos, são uns acrobatas elegantes e silenciosos na caça. Não sei se o mundo alguma vez foi bom, a história do paraiso perdido é muito antiga, contam-nos isso de muitas formas; talvez a infância seja um paraiso perdido.
Maria João
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