Em 1997 os Tindersticks vieram a Portugal para dois concertos: Coliseu do Porto e Coliseu de Lisboa. Em vez de perguntar aos meus pais se podia vir, tratei de tudo com antecedência: juntei o dinheiro suficiente para a viagem, para o bilhete do concerto e um dia disse aos meus pais "em Novembro vou a um concerto a Lisboa". O Terreiro recebeu-me na sua casa de Odivelas. Choveu todo o fim-de-semana e pela primeira vez entendi o que era essa coisa do "urbano". Mas adiante. A primeira parte do concerto dos Tindersticks esteve a cargo dos Puressence, banda de Manchester, que tinha lançado o seu primeiro álbum em 1996, o homónimo "Puressence". Para quem, como eu, levava na bagagem a sonoridade dos Tindersticks (e a vontade de os ver ao vivo), foi uma enorme surpresa a música do quarteto que à nossa frente se apresentava. Lembro-me, essencialmente, do nervosismo visível de toda a banda e da voz em falsete de James Mudriczki. O concerto lá aconteceu e por aí ficou. Mas também é verdade que as músicas também ficaram connosco e passámos o resto da noite a comentar aquela banda e a sua aparente fragilidade. Procurámos afinidades e influências (Joy Division, The Sound, The Cure, talvez um pouco dos The Smiths). Às vezes um de nós começava a trautear um dos temas. Resumindo: ninguém ficou indiferente. Como ficar indiferente, por exemplo, a "Near distance" e "I supose", temas que abrem na perfeição o álbum? Como esquecer "Fire"? Mas é o tema "India" (ver caixa de comentários) que até hoje me acompanha: "I used to feel I had it all in my hands,/It all came crashing down on me, yeah,/With lipstick on my overall,/And it makes me feel so over awed,/I'm sinking fast".
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