Quando algures em 1998 o Miguel Martinez me deu a conhecer Sixteen Horsepower, e este "Low Estate" (1997), rapidamente se tornaram, para mim, numa banda de culto (tenho, aliás, todos os álbuns dos rapazes de Denver). A verdade é que aquilo que ouvia era muito diferente das sonoridades que povoavam os meus dias, a começar pelo sotaque do vocalista, David Eugene Edwards (que passou por Crime & The City Solution, e que é vocalista de Wovenhand [banda altamente recomendável]), que remete para os estados do sul dos Estados Unidos da América. Todavia, o tom combinava com o preto que vestia todos os dias. O álbum (produzido nada mais nada menos do que por John Parish) é povoado pelas dicotomias amor/perdição, luxúria/arrependimento e os possíveis jogos entre elas. Aliás, a religião é algo muito presente nas letras das músicas, que são uma combinação de country, folk, gospel, bluegrass e rock. Uma combinação, diga-se, muito bem conseguida. Temas como "Brimstone Rock" (que abre o álbum), "For Heaven's Sake", "Coal Black Horses" são bem representativos dessa mescla. Mas é o tema "Phyllis Ruth" que resume todo o imaginário desta banda, que anda muito pelas águas do chamado "American Gothic": "As one with spirit yes/She goes where it goes/What my little girl sees from the sill/Nobody knows/As one with spirit yes/She goes where it leads/Oh boy, that's where my little girl feeds". Já o tema "Dead Run" remete-nos para aquele Nick Cave and the Bad Seeds inicial, onde não existia a lamúria existencial, antes a revolta, a fúria, o dedo apontado ao rosto de Deus. Sixteen Horsepower (às vezes 16 Horsepower) há algum tempo que deixaram de existir. Mas ainda podem ser encontrados por aí. Arrisquem.
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