Duas pequenas notas e não volto mais a estes assuntos


1. Reitero o que antes disse: sou contra o serviço militar obrigatório. E mais sou contra quando o seu regresso está colado à possibilidade, ou necessidade (como alguns já apregoam [é ouvir atentamente o comentador Germano Almeida]), de uma guerra com a Rússia. Resumindo: carne para canhão. Domenico Losurdo, no seu livro O Marxismo Ocidental (Boitempo, 2018, p. 23), relembra a opinião de Walter Benjamin sobre o serviço militar obrigatório. Para o alemão, o serviço militar obrigatório só poderia ser compreendido como a "obrigação do recurso universal à violência como meio para atingir os fins do Estado". Penso que pouca discussão poderá existir em relação a esta afirmação, já que os sinais são demasiados e óbvios, pois as primeiras décadas deste século deram-nos bons exemplos (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen). Já Ernst Bloch, outro filósofo alemão também relembrado por Losurdo, vai mais longe e  considera que o serviço militar obrigatório apenas cumpre, e justifica, "o pathos patriótico e chauvinista do Estado militarista" (é pensar, por exemplo, nas recentes declarações do Almirante Gouveia e Melo, defensor de um serviço militar obrigatório que mobilize rapidamente os jovens: "vamos morrer onde tivermos de morrer".). Bloch afirma, de forma radical, que o serviço militar obrigatório não está já ao serviço da nação, como pretende o discurso oficial, mas sim ao serviço do capital e da bolsa, bem como ao serviço dos grandes grupos económicos que, como sabemos, beneficiaram e continuam a beneficiar com a guerra, e porque Gramsci nos ensinou: "A guerra é a máxima concentração da actividade económica nas mãos de poucos (os dirigentes do Estado) e corresponde-lhe a máxima concentração de indivíduos nas casernas e nas trincheiras." (Textos Políticos - Antologia, Bookbuilders, 2024, pp. 62-63).

2. Não recuso, no entanto, a necessidade de umas Forças Armadas que cumpram e façam cumprir a Constituição da República Portuguesa, bem como compromissos internacionais a que possamos estar obrigados, e que sejam exclusivamente para assegurar a paz e mandatados pelas Nações Unidas. Assim, as Forças Armadas devem ser valorizadas dentro da profissionalização já existente. Tudo o resto que procure,  à força de logro e meia-verdade, a vala comum, merecerá sempre o meu repúdio. 

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