Scott Walker - Bish Bosch (2012)



A primeira vez que ouvi Scott Walker, “The Drift” (2006) tinha acabado de sair e decidi ir até um daqueles postos de escuta na Fnac. Senti um tremor no estômago quando o baixo de “Cossacks Are” surgiu, seguido da voz de Walker naquele timbre a lembrar o canto gregoriano. Pousei os auscultadores e afastei-me. Aquele som permaneceu comigo o dia todo e os restantes. Mas tudo aquilo se foi entranhando e entranhando, apesar do estranhamento inicial. Assim, se tivesse de caracterizar a minha relação com a música de Scott Walker, principalmente a partir de “Tilt” (1995), diria que é a mesma que tenho com a poesia: um desafio permanente, uma procura de sentido e, muitas vezes, o ficar pelo caminho, umas vezes perdido, outras possuído por uma inquietação. O mesmo acontece-me, por exemplo, com a música de uns Trobbing Gristle, ou Coil. “Bish Bosch” (2012) encerra a trilogia iniciada com “Tilt” e prosseguida em “The Drift”. As semelhanças com estes dois álbuns são evidentes: blocos de som, num minimalismo industrial e marcial, entremeados por momentos de silêncio e pela característica voz de Scott Walker, que recita (não me atrevo a dizer que canta) pedaços de textos, que muitas vezes parecem não estar ligados entre si: “Didn't you get enough attention at home?//If shit were music/La da da, la da da/You'd be a brass band//Know what?/You should get an agent, oh yeah, yeah/Why sit in the dark handling yourself?” (“Sdss1416+13b [Zercon, a Flagpole Sitter]”). O ambiente criado é, no mínimo, perturbador e não aconselhável aos mais sensíveis de ouvido, ou de estômago.


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