A primeira vez que
ouvi Scott Walker, “The Drift” (2006) tinha acabado de sair e decidi ir até um
daqueles postos de escuta na Fnac. Senti um tremor no estômago quando o baixo
de “Cossacks Are” surgiu, seguido da voz de Walker naquele timbre a lembrar o
canto gregoriano. Pousei os auscultadores e afastei-me. Aquele som permaneceu
comigo o dia todo e os restantes. Mas tudo aquilo se foi entranhando e
entranhando, apesar do estranhamento inicial. Assim, se tivesse de caracterizar
a minha relação com a música de Scott Walker, principalmente a partir de “Tilt”
(1995), diria que é a mesma que tenho com a poesia: um desafio permanente, uma
procura de sentido e, muitas vezes, o ficar pelo caminho, umas vezes perdido,
outras possuído por uma inquietação. O mesmo acontece-me, por exemplo, com a
música de uns Trobbing Gristle, ou Coil. “Bish Bosch” (2012) encerra a trilogia
iniciada com “Tilt” e prosseguida em “The Drift”. As semelhanças com estes dois
álbuns são evidentes: blocos de som, num minimalismo industrial e marcial,
entremeados por momentos de silêncio e pela característica voz de Scott Walker,
que recita (não me atrevo a dizer que canta) pedaços de textos, que muitas
vezes parecem não estar ligados entre si: “Didn't you get enough attention at
home?//If shit were music/La da da, la da da/You'd be a brass band//Know what?/You
should get an agent, oh yeah, yeah/Why sit in the dark handling yourself?” (“Sdss1416+13b
[Zercon, a Flagpole Sitter]”). O ambiente criado é, no mínimo, perturbador e
não aconselhável aos mais sensíveis de ouvido, ou de estômago.
Scott Walker - Bish Bosch (2012)
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