Nirvana - Incesticide (1992)




Foram anos de festas em garagens nas traseiras de prédios na Guarda, que também por lá os havia. Eram, essas garagens, os nossos subúrbios, a nossa Seattle, um ponto de fuga para tudo o resto. Havia sempre alguém que tinha uma aparelhagem, ou um rádio com leitor de cassetes. Todos tínhamos camisas de flanela, calças de ganga rasgadas e só alguns cabelo comprido. Quando o primeiro de nós comprou "Incesticide", havia grande expectativa em relação a esse terceiro álbum da banda de todos nós. A fasquia estava alta, pois todos tínhamos ouvido "Nevermind" até à exaustão e depois um pouco mais. A linha de baixo de "Dive", primeira faixa do álbum, e aquela espécie de low-fi na produção (que lhe confere crueza), foram o aviso: preparem-se! As opiniões dividiam-se entre as pausas do mosh e para o traçadinho de vinho branco com sumo de maçã (que nunca faltava). "É muito bom!", diziam uns, "Nevermind é muito melhor!", outros repetiam. Uns poucos estavam mais atentos às letras, onde havia o combate ao machismo e ao papel da mulher numa sociedade patriarcal (é ouvir "Been a son" com atenção). Todos os temas eram mais rápidos, cinzentos, alguns estranhos ("Hairspray Queen"). O regresso dos Nirvana às raízes de "Bleach" agradava a uns e deixava outros desconfiados. Ninguém, é certo, ficou indiferente, principalmente depois de ouvirmos, de seguida, os três últimos temas do álbum: "An idea is what we lack, it doesn't matter anyways" ("Aero Zeppelin"); " Endless climb/I am blind/Why can't I hear?("Big Long Now"); "Beat me out of me (beat it, beat it)" ("Aneurysm"). Uma maravilha, digo eu hoje.

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