A noite mais escura da nossa Democracia
aconteceu. Por aquilo que vou lendo por aí, os meus amigos estão chocados com o
resultado eleitoral. Chocados, angustiados, tristes, revoltados. Mas a verdade
é que nenhum dos meus amigos, reais e virtuais, pode alegar que não estava à
espera. Nenhum pode alegar que ficou admirado. Nenhum pode perguntar: “mas como
é que isto aconteceu?”. A hipocrisia tem limites e não tenho os meus amigos por
hipócritas.
Todavia, cada um de nós pode
fazer a seguinte pergunta: o que fiz eu, individualmente, para evitar que a
noite mais escura da nossa Democracia tivesse acontecido? o que fiz eu,
individualmente, para esclarecer, debater, refutar as bocas que ouvi sobre
“corrupção”, “tachos”, “imigração”, “limpeza”, “superioridade estética e moral”
e essas alarvidades que todos nós conhecemos, ouvimos? o que fiz eu para, no
meio da escuridão que se avizinhava, tentar que a luz brilhasse, permanecesse
acesa?
E podemos perguntar: o que
fizemos nós, colectivamente, para impedir que passassem, já que quase todos
enchemos a boca com “Não passarão!”? já que quase todos gostamos de cravos e de
sair com eles na lapela à rua? já que quase todos sabemos que a culpa não é
apenas dos meios de comunicação social, ou do Tik Tok? Porque, na realidade,
quase todos nós, uma ou outra vez, ficámos em silêncio. Porque, na realidade,
quase todos nós já nos sentámos à mesa com alguém que proferiu uma série de
inanidades e continuámos sentados.
Será que estamos mesmo dispostos
a deixar que isto continue sem tomar, verdadeiramente e de cara levantada,
partido?
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