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O meu fascínio pela música de Burial já vem de há tempo. Mas admito que foi com a leitura de Mark Fisher que tudo se encaixou e fez sentido. Diz Fisher:
Quando ouvi Burial pela primeira vez, (...) fui logo buscar o primeiro álbum de Tricky, Maxinquaye, como ponto de comparação. Não era apenas a utilização do crepitar do vinil, (...) a sugerir a afinidade. Era também a atmosfera dominante, a forma como a tristeza sufocante e uma melancolia balbuciada contaminavam um erotismo e um discurso onírico a sofrer de amores (...) a música de Burial invoca cenas urbanas sob um chuvisco permanente à maneira de Blade Runner (...). (1)

Ontem, enquanto descia a Almirante Reis (depois de vir da Flur, onde adquiri o álbum) senti isso mesmo. Havia um leve chuvisco permanente que às vezes se transformava numa chuva forte e intensa. Os edifícios sujos e velhos à minha volta, os aromas dos diferentes restaurantes, os passeios apinhados de gente que fala uma língua que não a minha (em todos os sentidos), mais o som da cidade. E eu a pensar "levo aqui a banda-sonora disto tudo".


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(1) Fantasmas da minha vida: Escritos sobre Depressão, Hantologia e Futuros Perdidos, tradução de Vasco Gato, VS, 2021, p. 81.

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