Lí por aí


Navalny conseguiu a quadratura do círculo ao defender e condenar simultaneamente as ações militares russas na sua vizinhança próxima. Se, por um lado, condenou a intervenção militar russa na Ucrânia, por outro, apoiou a
 ocupação da Crimeia (2014) e as ações militares do Kremlin na Abecásia e na Ossétia do Sul (2008). “Como Putin, Navalny considerava a Ucrânia uma construção artificial”. A sua veia ultranacionalista levou-o a afirmar que russos, bielorussos e ucranianos eram partes integrantes da mesma nação, ou seja, da nação russa, posições que não lhe valeram popularidade na Geórgia e na Ucrânia.

Como é sabido, a estratégia tanto dos EUA como da Alemanha passava por: numa primeira fase, provocar uma mudança de regime em Moscovo e instalar um líder obediente; e, numa segunda, desmembrar a Federação russa jogando na promoção de tendências regionais separatistas, com o objetivo de criar cisões nas elites dirigentes e desestabilizar o regime de Putin. Não obstante as suas posições ultranacionalistas exacerbadas, a ambição política de Navalny falou mais alto prestando-se a alinhar num jogo em que nunca passou de peão de brega.

Para concretizar os seus objetivos, Washington costuma não olhar frequentemente a meios, recorrendo amiudadas vezes à fórmula “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Apesar das consequências nefastas desta abordagem (Al Qaeda, Estado Islâmico, etc.), os EUA continuam a insistir nelas.

Carlos Branco, Major-General
O estranho caso do Dr. e do Sr. Navalny
Jornal Económico, 22 de Fevereiro de 2024

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