Indignar-me é o meu signo diário

Escrevo este texto enquanto na televisão se dão loas e vivas ao acordo em sede de Concertação Social, o que me leva ao célebre início de O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, de Karl Marx: Hegel observa algures que todos os grandes factos e personagens da história universal aparecem como que duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa. E os factos são estes: se com a entrada da Troika em Portugal tivemos a “tragédia”, hoje a inflação — como desculpa retórica para o não aumento dos salários — é, sem duvida alguma, a “farsa”. Em Abril passado o Governo garantia, na voz de António Costa, “que subidas dos salários acima do previsto podem multiplicar inflação.” (1). E foi ainda Costa quem disse: “Se os preços estão a aumentar porque os custos de produção estão a subir na área da energia, então, por essa via, iríamos só aumentar mais os custos de produção. Os preços iriam aumentar e cairíamos na ilusão do aumento do rendimento, que rapidamente seria comido pela subida da inflação” (2). Só que os salários não subiram e o salário mínimo permanece abaixo dos 800 euros mensais — quando deveria estar nos 852 euros. Pelo contrário, a inflação, essa, continua a subir e não sabemos onde e quando irá parar. A farsa está, sem dúvida, instalada. E passa em directo na televisão.

Sem comentários: