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O dia acordou enevoado e assim continuou. O gato — que tem andado por estes dias à procura de lugares frescos pela casa — regressou à manta polar que o aquece no Inverno. Os melros que todos os anos fazem ninho no telhado: hoje não se ouviram. Há a esta hora silêncio no prédio. Também na cidade assim parece. Escrevo estas linhas. Os dias.

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Começo a sentir aquelas pequenas nuances que vêm com a idade e que sempre ouvi aos mais velhos. Rigidez nos ossos ao levantar pela manhã. O não conseguir estar mais de oito horas na cama. Ser cada vez mais difícil ficar acordado até tarde. Às vezes esquecer um ou outro pormenor. Mas dizem que nem tudo é mau. Parece que o envelhecer traz sabedoria e paciência. Devo admitir que ainda me faltam ambas.

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Começo cada vez mais a ver cada vez menos os noticiários. Ao fim do dia passo por um ou outro canal de notícias. Leio as notas de rodapé e fico a saber que o mundo afinal ainda cá está. Embora não se saiba durante quanto tempo. E essa novidade diária é-me suficiente.

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