Os ideais são indicadores, não são entidades tangíveis. Mostram-nos o caminho a seguir. Os que escarnecem dos ideais socialistas deviam lembrar-se de que o mercado livre também nunca poderá ser perfeitamente realizado. No entanto, isso não parece deter os seus partidários. O facto de não existir qualquer democracia perfeita não nos leva a aceitar a tirania como alternativa. Não abandonamos os esforços para alimentar os esfomeados do mundo só porque sabemos que alguns já terão morrido antes de o podermos fazer. Alguns dos que afirmam que o socialismo é inexequível estão convencidos de que conseguirão erradicar a pobreza, travar a crise do aquecimento global, estabelecer a democracia liberal no Afeganistão e resolver conflitos mundiais através de resoluções das Nações Unidas. Todas estas tarefas formidáveis encontram-se convenientemente ao alcance do possível. Só o socialismo, por alguma razão misteriosa, está fora do alcance.
em Porque é que Marx tinha razão, tradução de Jaime Araújo, Lisboa: Edições 70, 2021, p. 101.
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