Manuel Loff


     O anticomunismo dos nossos dias não dispensa a mais velha das teses anticomunistas sobre os comunistas, formulada nos anos da Revolução e da guerra civil russa, no pós- Primeira Guerra Mundial e enquanto se manifestava o grande élan revolucionário de 1917-23, período no qual toda a galáxia anti-revolucionária descrevia os comunistas como uma minoria alheia à identidade «nacional», isto é, àquela que é assumida como sendo dominante em cada sociedade. Os comunistas, tomados como um Outro segregado, seriam, afinal, portadores de uma cultura inassimilável/inconciliável. Daqui saiu durante décadas o slogan de que os comunistas eram «anti-nacionais», o que seria comprovado pelo internacionalismo proletário e por aquilo que era descrito como «a obediência a uma potência estrangeira», em referência à União Soviética.
     Os dois argumentos têm hoje uma ressonância muito curiosa em plena era da chamada globalização liberal, fundada sobre a retórica internacionalista e sobre o que se tem descrito como sendo os irrecusáveis deveres dos Estados para com as determinações de poderosos centros de decisão transnacional, sejam eles o governo da União Europeia, a gestão financeira do Banco Central Europeu ou do Fundo Monetário Internacional, ou as obrigações intrínsecas à adesão à NATO, por exemplo.

retirado de «A Revolução de Outubro e o Anticomunismo no Século XXI» em Socialismo: Exigência da Actualidade e do Futuro, Lisboa: Edições Avante!, 2017, p. 121.

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