Pavel Borisov Krstev (1918-1951)


Nascido numa família pobre da região de Plovdiv, perto da vila de Laki, Pavel Borisov Krstev  filho mais velho de Boris Pavelov Krstev e da sua primeira mulher, de origem georgiana, Ekaterine Dzimiti Panulidzev, falecida prematuramente (tinha dezassete anos) após o parto do seu terceiro filho — cedo aprendeu o seu lugar num país governado pelo czar Boris III. Pavel Borisov não teve oportunidade de frequentar a escola que se encontrava ao fundo da rua, mas isso não foi impedimento para aprender as primeiras letras, pois seu pai — antigo mestre-escola caído em desgraça por ter sido membro fundador da Federação Anarco-Comunista e grande amigo de Guerorgui Cheitanov, sendo agora sapateiro de profissão — não deixou o seu filho primogénito ficar por alfabetizar. Os anos foram passando e Pavel decidiu que tinha chegado a hora de partir de Laki e conhecer a capital. Corria o ano de 1938. Ao chegar a Sofia conseguiu trabalho numa tipografia. Esse trabalho permitiu-lhe contactar com os vários grupos intelectuais existentes, nomeadamente aqueles ligados à revista Zlatorog, que Pavel compunha e imprimia, dando-lhe a oportunidade de ler, em primeira mão, os textos nela publicados. Depois do trabalho, Pavel costumava frequentar os cafés do centro de Sofia, participando activamente nas tertúlias literárias e políticas que ali ocorriam. Foi numa dessas tertúlias que conheceu Nikola Vaptsarov, de quem viria a tornar-se grande amigo, na altura em que este tinha sido forçado a mudar-se para a capital, depois de ter sido despedido, em 1936, da fábrica onde trabalhava em Kocherinovo. Através de Vaptsarov, Pavel entrou em contacto com os ideais comunistas, promovendo encontros pelos cafés da cidade onde procurava aliciar outros a juntarem-se à "justa causa do proletariado". O seu envolvimento nestas actividades levou a que fosse despedido do seu trabalho. Vaptsarov não deixou o amigo nessa hora mais negra e convidou-o a integrar o Partido Comunista Búlgaro, apresentando-o a Georgi Dimitrov, que ficou impressionado com o fervor e compromisso com a causa de Pavel Borisov, convidando-o a integrar os quadros do jornal Rabotnichesko delo, ficando responsável pelo seu grafismo. Depois da invasão da Polónia por parte da Alemanha Nazi, dando assim início à Segunda Guerra Mundial, a Bulgaria beneficiou, em certa medida, do pacto Molotov-Ribbentrop, o que lhe permitiu manter-se neutra, apesar das suas pretensões em recuperar alguns dos territórios perdidos com o final da Primeira Guerra Mundial. O pacto de não agressão entre a Alemanha de Hitler e a União Soviética de Estaline era também cumprido pelo Partido Comunista Búlgaro. Pavel discordava do silêncio do seu partido e começou a publicar, clandestinamente, alguns panfletos onde procurou desmascarar a hipocrisia vigente. Vaptsarov, ao saber  que o amigo era o autor de tais panfletos, aconselhou-o a deixar de os publicar e distribuir. Pavel não seguiu o conselho do poeta. Tal decisão veio a revelar-se fundamental aquando da invasão da União Soviética por parte das forças militares nazis, pois os panfletos de Pavel eram lidos com avidez por muitos búlgaros, o que veio a permitir a rápida organização do movimento de resistência, com o alto patrocínio do Partido Comunista Búlgaro. Pavel, a convite do seu amigo Vaptsarov — que na altura fazia parte do Comité Central Militar do Partido —, ficou responsável pela comunicação do Partido, tendo sido promovido a director do jornal Rabotnichesko delo. Com o avançar da guerra, e a aliança estabelecida entre Boris III e o III Reich, os partizans búlgaros, liderados por Vaptsarov, foram responsáveis por vários actos de sabotagem nas linhas de abastecimento nazi, mas também pela morte de um grande número de colaboracionistas búlgaros. Vaptsarov passou a ser persona non grata e a sua captura uma prioridade. Em Março de 1942 foi capturado e executado em Julho desse ano. Este acontecimento abalou fortemente a estrutura da resistência, que viu a sua actividade reduzida a quase nada. Pavel Borisov ficou bastante afectado com a morte do seu grande amigo, mas continuou com o seu trabalho, tendo promovido a reedição do único livro de Vaptsarov, reedição essa que se revelou um sucesso e uma das principais responsáveis pelo reavivar da resistência. Com o final da Segunda Guerra Mundial, Pavel Borisov foi um grande dinamizador da aproximação da Bulgária à União Soviética, tendo promovido encontros entre escritores e outros artistas. Todavia, foi sempre muito crítico das purgas promovidas por Estaline, o que lhe trouxe alguns dissabores: foi removido do cargo de director do jornal que dirigia e expulso do Partido Comunista Búlgaro, sendo a expulsão promovida por Valko Chernenkov — estalinista convicto e presidente do partido após a morte súbita de Dimitrov — que o via como um "diletante burguês", "reaccionário anti-revolucionário" e "titoísta", o que provocava sonoras gargalhadas em Pavel. Depois da expulsão do partido Pavel regressou à sua terra natal. Numa manhã fria de Novembro saiu para a sua habitual caminhada pela floresta. Foi encontrado, por volta da hora do almoço, de bruços e sem vida junto a um pequeno riacho.

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