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De Frederico Pedreira conheço um ou outro poema disperso. Aquilo que dele li, neste género, não me entusiasmou ao ponto de comprar um livro seu. E quando saíram Um Bárbaro em Casa (Língua Morta, 2014) e Fazer de Morto (Língua Morta, 2016), o hype foi demasiado e perdi vontade de os ler, isto porque às vezes é preferível não ler aquilo que outros escrevem sobre certos livros (há muito defendo que a não leitura é algo muito importante).
     A Lição do Sonâmbulo (Companhia das Ilhas, 2020) passou-me completamente ao lado até à semana passada, quando foi anunciado pela editora que o livro tinha ganho o Prémio Europeu de Literatura 2021 (Portugal). Os prémios valem o que valem. São muitas vezes, ou quase sempre, mais importantes para os autores e editoras do que para os leitores. Todavia, fiquei curioso e comprei o livro directamente ao editor.
     O autor tem a capacidade de prender o leitor da primeira à última palavra, numa escrita limpa, sem subterfúgios. Há, neste livro um barroquismo depurado, limpo de exageros estilísticos, apesar dos jogos de ideias que vamos encontrando. Um bom exemplo desse jogo (que penso nada ter de lúdico) é o recorrente uso, por parte do narrador e no início do livro, da "imagem" associada à final da Taça dos Campeões Europeus, gravada em VHS, entre o AC Milan e o Benfica. Para os menos esclarecidos nessas coisas do futebol: o Benfica perdeu o jogo. E o narrador revê esse momento uma e outra vez, como se contemplasse a sua própria derrota, ou o desmoronar de uma infância que começa, cada vez mais, a ficar para trás, pois também os interesses começam a ser outros.

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