Versões: W. S. Graham


A besta no espaço

Cala-te. Cala-te. Não há aqui ninguém.
Se pensas que ouves alguém bater
Do outro lado das palavras, não
Prestes atenção. Será tão-só e apenas
A grande criatura que bate a sua cauda
Em silêncio do outro lado.
Se nem isso consegues ouvir
Darei à besta uma rápida palmada
E com engenho e arte a ouvirás ganir.

A besta que vive no silêncio vai
mordendo deste lado e do outro.
Alimenta-se e respira entre nós. Agora
Chega e sorve todo o meu pensar.
Acaba com isso. Atravessa este
curioso e necessário espaço.
Desaparece, terrível habitante
Do silêncio. Não irei aceitar. Vai
Para onde alguém te queira.

Partiu e se para ti também partiu
É justo. Porque deste lado
Das palavras é tarde. A grande mariposa
Bate no vidro. Toda a casa
Está a dormir e recordo
Que não estou aqui, apenas no espaço
Que mando a terrível besta atravessar.
Vê. Ela morde. Ouve atentamente
Toda a canção que grunhe e rosna
E dá-lhe de comer. Não te deseja
nem bem nem mal. Acima
De tudo, cala-te. Dá-lhe o teu amor.


W. S. Graham, "The beast in the space", Selected Poems, Faber and Faber, 1996, pp. 48-49.

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