Um poema de Artur Aleixo

 

O fim da tarde, no pátio da escola,
abrem-se os primeiro buracos
para jogar o berlinde. Milimetricamente
procuram-se os locais do ano
passado. Dos mais velhos
é o primeiro testemunho na arte de invadir
o mundo. Afoitos, explicam também
como os botões sobram na roupa
dos mortos. Durante o velório
esperam o momento certo e zás,
sem contemplações, arrancam-nos dos punhos.

Roubados os botões, fica o relógio
valioso para enumerar os percalços
do mundo.


em Telhados de Vidro - nº. 5, Lisboa: Averno, Novembro de 2005, p. 11.

Sem comentários: