O enigma
Esse enigma
que placidamente te consome as vísceras
brasa ardendo lenta no interior das açucenas
essa gota perdida no terror das vagas
o cansaço do corpo sobre a caruma
aspirando o odor da resina
oh manhãs jovens frescas colinas
sobre o azul
e esse enigma deslocando-se em múltiplos sentidos
viagem acidulada estrume de auroras
fuga/fogo fátuo rente às mãos abertas
essa madeira rangendo vergada aos vendavais
a busca do sentido ou a sua recusa
na ressaca dos eflúvios nómadas
erupção do sangue no sexo da música
esse (ainda) enigma de açúcar ou saibro ou seda
esboroando-se entre os dedos
como areia em brinquedo de criança boquiaberta
27/1/94
em Colheita serôdia — inéditos e dispersos, V. N. Famalicão: Edições Húmus, 2020, p. 13
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